Os abalos de Hollywood
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Enquanto a Serra Gaúcha vive intensamente o Festival de Cinema de Gramado, a sétima arte provoca suspiros ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, 50 anos depois, a Academia de Hollywood formalizou no dia 16 de agosto de 2022, um pedido de desculpas histórico. A retratação foi para com a atriz indígena Sacheen Littlefeather, vaiada no palco do Oscar há quase cinco décadas.
Em 1973, Sacheen apareceu ao vivo na televisão durante a premiação do Oscar de melhor ator para recusar, no lugar do seu colega Marlon Brando, a estatueta. O ator, que ganhara o prêmio graças à sua atuação em “O Poderoso Chefão”, pediu à colega para representá-lo em protesto contra a desvalorização dos povos nativos americanos pela indústria do cinema americano. Na ocasião do discurso, Littlefeather sofreu injúrias e preconceito por parte da platéia. Além disso, ela teria sido hostilizada e ignorada pela indústria do entretenimento após o ato. Tantos anos depois, a atriz teve dificuldades em acreditar que realmente lhe estavam pedindo desculpas, pois nunca achou que isso iria acontecer enquanto ela vivesse, como relata ao Hollywood Reporter em entrevista.
O discurso da atriz indígena foi o primeiro com conotação política da história do Oscar, assim inaugurando uma tendência que continua até os dias de hoje. “Ele lamentavelmente não podia aceitar este prêmio tão generoso. E as razões para isso são o tratamento que os indígenas americanos recebem hoje da indústria cinematográfica e da televisão em reprises de filmes, e também com os recentes acontecimentos em Wounded Knee", disse a atriz em 1973. Além de todo o preconceito ao vivo, os rumores que se instalaram após o evento foram ainda mais chocantes. Relatos midiáticos teriam dito que a atriz não era realmente uma nativa americana e que ela teria feito o discurso apenas para alavancar a própria carreira. Chegaram ainda a haver especulações de que ela seria amante de Marlon Brando. Em entrevista à BBC, Littlefeather declara negativas todas as especulações.
Em setembro de 2022, o Museu de Cinema da Academia sediará um evento no qual a atriz falará sobre o Oscar de 1973 e o futuro da representação indígena nas telas. Além disso, ela declarou à BBC após receber o pedido de desculpas: "Nós, indígenas, somos pessoas muito pacientes — foram apenas 50 anos [de espera]!". Ela explica que o senso de humor é o combustível de sobrevivência indígena.
Em plena época de Festival de Cinema de Gramado, o cinema é mais uma vez colocado como plataforma que mobiliza, ensina e aprende. É um espaço de arte que reflete o mundo como ele é e conta histórias que refletem as nossas. Um exemplo claro é o vencedor da Mostra Gaúcha de Curtas como Melhor Filme, “Sinal de Alerta Lory F.” O curta conta a história de Lory Finocchiaro, baixista e compositora que, nos anos 90, em Porto Alegre, se firmou como uma rockeira à frente do seu tempo. Como muitos expoentes de sua época, acabou sendo vítima do HIV e morreu antes de finalizar seu único disco. O filme traz a reflexão intensa da vida de uma mulher que fugia dos padrões de sua época e seus dilemas.